Big Up! LusAfro! trouxe à capital alemã, no sábado (25.11), talentos da cena musical luso-africana. O público dançou ao som da rapper moçambicana Dama Do Bling e dos DJs Buruntuma, Marfox e Breyth, entre outros.
fonte: DW África
Berlim, a capital da música eletrónica europeia, foi palco para talentos musicais luso-africanos mostrarem as sonoridades que animam clubes de Luanda, Maputo e Lisboa, além da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
Foi no bairro berlinense de Kreuzberg, conhecido pelo estilo alternativo, que esses novos e alguns já renomados talentos apresentaram, este sábado (25.11), as suas batidas.
Os chamados "afrobeats" ou batidas africanas não deixaram ninguém parado na pista de dança do Clube Gretchen numa noite casa cheia, com cerca de 200 pessoas.
"O "afrobeat" é um ritmo que se sente e vem do coração. Eu danço sem ver o que está em redor. Já o "techno" sozinho é um ritmo muito duro", contou à DW África a estudante alemã Marie Wischerow durante a festa.
Os músicos fazem parte do projeto LusAfro, uma iniciativa da produtora Piranha Kultur, em parceria com a empresa Harmonia, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e a rádio alemã WDR Cosmo.
Este foi o terceiro encontro do LusAfro, este ano, depois da participação no festival Atlantic Music Expo, em Cabo Verde, em abril, e de uma passagem por Colónia, na Alemanha, em julho.
Sons da diáspora
Mas o que estes artistas luso-africanos trazem para a cena musical berlinense? "Algo totalmente novo", responde Francis Gay, criador do projeto LusAfro pela rádio WDR Cosmo.
"Já existem festas africanas em Berlim, onde atuam talentos do Gana, da Nigéria, de Londres ou Paris. Mas o que se produz em Maputo, Luanda e Praia e, sobretudo os sons produzidos no contexto da diáspora africana, em Lisboa, são bem diferentes", afirma Francis Gay.
Kuduro, Kizomba, Funaná são sonoridades africanas que dão um toque especial às batidas eletrónicas da cena musical de Berlim onde, desde os anos 80, o "techno" predomina.
"Poucas pessoas na capital alemã sabem, por exemplo, o que é o "Koti po", um som que nasceu nas ruas de Lisboa e se expandiu rapidamente para Cabo Verde. É hoje um fenómeno, um grande som, quase como o Funaná naquele país africano”, explica Gay.
Além disso, "ainda não chegaram com forte expressão à capital alemã os sons dos guetos de Lisboa, nem mesmo nomes como DJ Breyth e Marfox", acrescentou criador do projeto LusAfro. Foi isso o que o festival LusAfro também quis promover.
DJs dos guetos para o mundo
DJ Breyth vive em Lisboa e sua música toca nos clubes dessa cidade e em Luanda. Começou a interessar-se pela música por volta dos oito anos. Conta que, quando era miúdo, observava o pai misturar sons nas festas de família. Hoje, é o próprio pai que ouve os sons criados pelo músico, às vezes por acaso, nas ruas de Luanda, onde vive.
Outro nome da cena musical lisboeta é Marlon Silva ou DJ Marfox. Filho de imigrantes de São Tomé, começou a fazer música aos 13 anos e na adolescência integrou o grupo "DJs do gueto".
Hoje DJ Marfox viaja pelo mundo levando os sons que produz no seu quarto, em Lisboa. Aos 29 anos, já passou por festivais da América Latina, Estados Unidos e Europa, levando ritmos musicais africanos como o Kuduro e Funaná misturados com batidas eletrónicas.
"Tenho passado por bons festivais em que o Kuduro nunca foi tocado. É a batida de Lisboa, o "Afrobeat" ou o "Afro House", como denominaram. A aceitação do público tem sido fantástica", sublinhou DJ Marfox.
A música "Fun Fun Fun" resulta de uma colaboração com o berlinense Daniel Haaksman, com o som de acordeão, misturado pelo DJ Marfox com influências do Funaná cabo-verdiano.
"Downtempo”
Em Berlim, ritmos africanos como Kuduro, Kizomba e Funaná acabam por impulsionar uma tendência da cena eletrónica chamada "Downtempo" e "Global base". "Nessa cena ["Downtempo"] não há só as batidas do "techno" tradicional, mas o ritmo tem outra velocidade. É o que chamamos de "beats" por minuto ou "BPMs". São artistas que conseguem absorver tanto da cultura eletrónica como da música orgânica e pegam muito da cultura africana", explica o produtor cultural, músico e DJ Rodrigo Da Mata, que vive e trabalha em Berlim.
E é nessa onda que ganham espaço, em Berlim, novos talentos da cena luso-africana como os DJs Marfox e Breyth, de Lisboa, e Buruntuma, da Guiné-Bissau.
"Não temos muita expressão na cena, pelo menos no mercado onde estou. O meu maior sonho é que as pessoas vejam que se faz muita música boa fora do circuito "mainstream"", explica o guineense.
Rainha do hip-hop pela integração lusófona
Também integrante do projeto LusAfro, a rainha do hip-hop moçambicano, Dama Do Bling, já tem dez anos de carreira mas diz não ser imune às dificuldades do mercado da música africana e particularmente luso-africana.
"Desde 2012, tem sido muito mais difícil tocar em outros países africanos, porque estão mais fechados. Para onde deveria ir? Para Angola, Cabo Verde, mas não estamos a fazer isso, porque falta intercâmbio entre países luso-africanos e em África", lamenta Dama Do Bling.
Mesmo com poucos artistas e um público menor do que se esperaria em Moçambique, Do Bling diz que projetos como o LusAfro ajudam a valorizar a música da África lusófona. "Os promotores moçambicanos não aceitam coisas pequenas como o LusAfro. Querem fazer coisas grandes, com casa cheia, pavilhão com 50 mil pessoas. Só que isso não é possível, porque estamos a atravessar uma fase de crise económica", explicou a artista moçambicana.
Por isso, o projeto LusAfro é uma plataforma importante para se criar uma rede de músicos que têm em comum a língua, mas que não estão conectados. "Queremos mostrar ao mundo todos os "temperos" locais desses países e misturados ao que chamamos de "techno house", que acaba sendo parte da tendência "Global base"", explicou o criador do projeto, Francis Gay.
Além dos DJs Breyth, Marfox, Buruntuma e da rapper Do Bling, também participaram da festa BigUp! LusAfro outros talentos como DJ Daferwa, Perera Elsewhere, Fattú Djakité, Hélio Batalha, Gato Preto, e Africaine 808. O DJ Pedro Coquenão, famoso com o projeto "Batida" e conhecido pelo som eletrónico com crítica social, cancelou a participação por motivos de saúde.
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Samuel