Chegou a acolher cerca de dez mil alunos. Hoje, o interior desta escola está transformado num depósito de lixo e latrina pública. Ex-alunos lamentam a situação e põem em marcha abaixo assinado para salvar instituição.
fonte: DW África
As autoridades angolanas nada fizeram para restaurar a Escola "Angola e Cuba" desde que esta foi encerrada, devido a receios sobre abalos da estrutura. A DW África esteve neste estabelecimento de ensino e constatou o estado de abandono em que se encontra. Há lixo em todos os compartimentos, vidros partidos e paredes escritas. As antigas salas de aula servem agora de latrinas para alguns e de esconderijo para criminosos.
Não é caso único
Segundo os munícipes, esta não é a única escola neste estado. Gaspar Reis, morador do Cazenga e ex-aluno da "Angola e Cuba", afirma que no distrito urbano do Quimaquienda há outra escola "abandonada há quase dez anos". "Mesmo no tempo das aulas a escola já estava péssima e as salas nem tinham carteiras", acrescenta.
A escola secundária número 7042 foi construída em 1988, com o apoio de Cuba, que disponibilizou professores e formou quadros. A instituição de três pisos funcionava nos períodos diurno e noturno e acolhia cerca de 10 mil alunos, que em 2010 foram transferidos para outros estabelecimentos do município.
O Cazenga é o segundo município mais populoso de Luanda. A zona é conhecida pelo alto nível de delinquência e pela pobreza extrema que afeta boa parte dos moradores. O número reduzido de escolas estatais preocupa os habitantes, a quem falta quase tudo.
Efrain Saluca, também morador no município, pede às autoridades que recuperem a instituição. "Dói-me muito, como jovem e estudante que sou, ver essa escola neste estado. É um estado deplorável. Uma vez que o país está a precisar de mais escolas, e principalmente aqui no nosso município do Cazenga, acho que o Governo devia velar por esta situação", afirma.
Campanha em marcha
Mais de uma dezena de pessoas estão a trabalhar na campanha de recolha de assinaturas "Salvemos a Escola Angola e Cuba". Voluntários como Xito Milongo, outro antigo aluno da escola, têm estado a ir às casas à volta da escola para recolher assinaturas. Afirmando que "Angola é o único país que joga escolas no lixo", o voluntário Xito Milongo formado em engenharia civil lembra: "segundo a imprensa, existem [em Angola] mais de dois milhões de cidadãos fora do sistema de ensino. E se esta [escola] estivesse a funcionar, teria albergado os outros que não estão a estudar".
No ano passado, o administrador municipal Tani Narciso garantiu que a recuperação completa da escola "Angola e Cuba" era uma das prioridades das obras sociais no quadro do Orçamento Geral do Estado para 2017. Mas até hoje nada se fez.
Contactados pela DW África, o Ministério da Educação não reagiu e o administrador também não quis falar sobre o assunto.
Nuno Dala, um dos organizadores da campanha, disse que as assinaturas serão enviadas à ministra da Educação Maria do Rosário Sambo para que "ela, enquanto titular do Ministério, tenha conhecimento da necessidade da Escola "Angola e Cuba" ser reabilitada e voltar a funcionar, mas também para que sinta esta vontade dos populares que querem ver a escola a dar as alegrias que já deu". "[A escola] foi muito útil ao longo de década na formação de muita gente, incluindo até pessoas que hoje são titulares de cargos públicos", acrescentou o também ex-estudante da mesma instituição de ensino.
Segundo este ativista, o campo de basquetebol é, atualmente, "a única coisa que se explora e que tem utilidade". Aos fins de semana, os jovens continuam a praticar esta modalidade desportiva aqui, acrescenta. Nuno Dala lamenta o estado de degradação a que chegou aquela que foi também a sua escola. "Um município que tem seguramente milhões de crianças, adolescentes e jovens a precisar de escola e no entanto a escola está abandonada, cheia de lixo. A escola está praticamente transformada numa latrina pública gigante", afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é sempre bem vindo desde que contribua para melhorar este trabalho que é de todos nós.
Um abraço!
Samuel