A companhia aérea nacional está a cancelar voos por falta de combustível, mas nega que seja por falta de pagamento. A falta de confiança dos fornecedores deixa a LAM em aperto na compra de combustível, diz economista.
fonte: DW África
A rota Nampula-Tete-Joanesburgo é a mais afetada. O aeroporto de Pemba, no norte, também está em risco. Vários órgãos de comunicação, nacionais e internacionais, afirmam que a petrolífera BP cortou o fornecimento de combustível porque a LAM, Linhas Aéreas de Moçambique, não está a conseguir pagar uma dívida de três milhões de dólares.
Reagindo, a companhia aérea moçambicana desmentiu a dívida em comunicado nesta terça-feira (06.03.) e garante que está a comprar o combustível à Puma Energy mediante pré-pagamento. Mas a LAM confirma o abastecimento condicionado de combustível. Falamos sobre a nova crise na companhia de bandeira nacional moçambicana com o economista Muzila Nhansal:
DW África: Dado o elevado número de casos reportados sobre o mau serviço prestado pela LAM é caso para dizer que tarda uma reestruturação e revitalização da companhia?
Muzila Nhansal (MN): A LAM já devia ter sido intervencionada há muito tempo, o problema ali é o agudizar de prejuízos ao longo dos anos, um problema basicamente de gestão ao longo dos anos.
Não só por culpa da própria empresa, mas também por culpa do nosso setor legislativo dentro da indústria da aviação. A LAM, parecendo que não, tendo esses preços altos, muita gente pensa que todo o dinheiro vai para ela [empresa], que ela está numa situação de monopólio e [questionam-se] porque é que ela não sai desse aperto. Nós temos uma legislação que diz respeito as taxas, tanto aeroportuárias como de serviços e outros, e que depois vem tudo incluso no bilhete que não são pagos em moeda nacional, são pagos em dólares americanos. Então, imaginem ao longo destes anos que eles foram conseguindo gerir dentro de um cenário económico onde o risco cambial era reduzido comparativamente aos últimos dois ou três anos. Se for a ver a LAM está a ter problemas graves e de maior monta agora, exatamente por causa disso. E há um regulamento, não é por acaso que as tarifas em Moçambique são muito altas, é pela envolvente jurídica em termos de taxas. E isso de certeza que cria problemas de embaraço. Se formos a ver a LAM tem outro problema que é de gestão, é só olhar para a frota que ela tem e o número excessivo de trabalhadores que ela tem.
DW África: Mas acha que o Governo está, realmente, a tomar medidas sérias para reestruturar e revitalizar esta companhia?
MN: Qualquer medida que for tomada na LAM tem de mexer devidamente no quadro legal, caso contrário não vai dar em nada. O setor da aviação tem de ser reestruturado, o que está a acontecer com a LAM, agora que está pior, é o que aconteceu com muitas outras companhias, incluindo africanas. Então, os problemas nesta indústria são muito grandes. Quando se hesita em tomar decisões no tempo certo dá nisso que está a acontecer, onde problemas básicos de gestão como o meio de produção principal que é o combustível a empresa não consegue comprar. E esta situação não é nova, há bem pouco tempo a LAM teve os mesmos problemas e eu próprio já senti isso na pele, inclusive ter de deixar bagagem em Maputo para poder viajar até ao meu destino, porque o avião teve de carregar muito combustível porque não tinha como reabastecer num outro aeroporto porque devia a empresa [fornecedora]. Essas situações são, de facto, penosas e verdadeiras, mas é um problema de gestão que se foi agudizando ao longo de décadas e não sei se terá solução fácil.
DW África: A LAM emitiu um comunicado onde garante que não deve três milhões de dólares a BP, mas confirma que se debate com um problema de abastecimento condicionado de combustível. E LAM diz que está a comprar combustível a Puma Energy mediante pré-pagamento. Esta condição de pré-pagamento estará a dever-se, eventualmente, a uma falta de confiança em relação à LAM?
MN: É natural, a primeira coisa que qualquer comercial faz quando quer vender a alguém ou fazer um contrato de compra e venda é fazer um check record ao futuro cliente. Em função do check record, em relação ao cumprimento de prazos e pagamentos é que se faz uma avaliação de risco. Então, neste caso a Puma, como praticamente este negócio é um monopólio, ela tem o check record da LAM em relação à BP. É por isso que determinou essa forma de pagamento, não tem hipótese. Isso é um corolário, é quase como uma política comercial. E vamos ser honestos, nesta questão dos combustíveis a LAM está em maus lençóis.
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Samuel