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terça-feira, 9 de abril de 2019

Dívidas Ocultas: Governo sul-africano tem palavra final sobre extradição de Chang.

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Tribunal decidiu, esta segunda-feira (08.04), que o ex-ministro das Finanças moçambicano reúne condições para ser extraditado, tanto para os Estados Unidos, como para Moçambique. Decisão caberá ao ministro da Justiça. 
fonte: DW África
Südafrika Johannesburg | Prozess gegen Manuel Chang, ehemaliger Finanzminister Mosambiks (Reuters/S. Tassiem)
Numa sessão que teve lugar na manhã desta segunda-feira, o juíz William Schutte, do tribunal de Kempton Park, arredores de Joanesburgo, considerou que "o Estado requerente [EUA] tem provas suficientes contra o acusado que lhe garante processá-lo judicialmente por conspiração para fraude, conspiração para fraude com valores imobiliários, e conspiração para lavagem de dinheiro". O juíz acrescentou ainda que "a África do Sul reconhece os crimes de que é acusado pela justiça norte-americana".
Ministro da Justiça decide
Declarações semelhantes surgiram mais tarde, após um intervalo de cerca de 90 minutos que serviu para o Tribunal analisar a documentação das autoridades moçambicanas,  que pediram também que o ex-ministro das Finanças seja extraditado para o seu país de origem
Ou seja, a decisão sobre a extradição de Manuel Chang está agora nas mãos do ministro da justiça da África do Sul.
"Depois de analisado os méritos apresentados é decidido que nos termos da Lei de Extradição, 67 de 1962, existe prova suficiente contra o arguido da prática dos seguintes crimes: abuso de cargo ou funções; violação da legalidade orçamental; burla por defraudação; peculato; corrupção passiva para acto ilícito; lavagem de dinheiro e de associação criminosa", afirmou o juíz William Schutte após a sessão da tarde.
Südafrika - Gericht Kempton Park (DW/M. Maluleque)
Tribunal de Kempton Park (África do Sul)
À DW, o General Abel Nunu, adido de segurança do alto Comissariado de Moçambique na África do Sul, destaca: "Vamos agora esperar a decisão do ministro da Justiça, para onde serão remetidos os dois pedidos [de extradição] já julgados aqui. E o melhor é aquilo que o próprio juíz disse: que tanto o pedido de Moçambique, como o da América são procedentes".
Até sair a decisão do governo da África do Sul, Manuel Chang permanece detido na prisão de Modderbee, disse o mesmo juiz. O ex-ministro das Finanças moçambicano tem agora 15 dias para recorrer da decisão.
Caso decida não recorrer, o processo segue para as mãos do ministro da Justiça, não existindo um prazo estipulado para o anúncio da decisão. "O advogado tem a sua missão, nós temos a nossa de defender o nosso cidadão. Depois de decidirem vão-nos anunciar e nós posicionamo-nos", acrescenta Abel Nunu.
"Tribunal fez o seu trabalho", diz CIP
Borges Nhamire, pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP) tem vindo a acompanhar este caso. Em declarações à DW, após o anúncio da decisão, o investigador afirma que "o tribunal fez o seu trabalho e mostrou grande abertura, primeiro para a imprensa estar lá e acompanhar todas as secções,e depois porque mostrou que todas as decisões que foram tomadas foram baseadas em evidências".
Borges Nhamire, CIP-Forscher (DW/S. Lutxeque)
Borges Nhamire
Borges Nhamire nota ainda que se tratam de "decisões muito técnicas. Não há como dizer que o tribunal favoreceu ou desfavoreceu nenhuma das partes. Diriamos que foi um julgamento transparente e justo em função dos factos e das acusações".
O investigador do CIP diz acreditar que haverão recursos às decisões de hoje. "Agora o caso segue ao nível do ministro e depois ao nível dos tribunais, instâncias superiores em caso de recurso, como acreditamos que haverá".
Ainda durante a audiência da tarde desta segunda-feira (08.04), o juíz Wiliam Schutte referiu que o pedido das autoridades moçambicanas "confirma que o arguido Manuel Chang assinou as garantias que facilitaram os empréstimos para as chamadas empresas criadas para o efeito [da dívida oculta]".
Chang recebeu 17 milhões
O magistrado acrescentou que "o documento confirma que a República Popular de Moçambique sofreu uma perda financeira na ordem de 2,7 mil milhões de dólares" (cerca de 2,4 mil milhões de euros) e que "as provas confirmam que o arguido [Manuel Chang] aparentemente recebeu ostensivamente na ordem de 17 milhões de dólares [mais de 15 milhões de euros] alegadamente de receitas do crime". A acusação dos Estados Unidos refere que Chang terá recebido 12 milhões de dólares.
 
Ouvir o áudio02:48

Dívidas Ocultas: Governo sul-africano tem palavra final sobre extradição de Chang

Para Wiiliam Schutte, "é evidente que o arguido tem condições para ser extraditado com o objetivo de ir a um julgamento criminal, trata-se da pessoa procurada pelo Governo da República de Moçambique". E acrescentou também que o “tribunal é da opinião que os crimes enunciados no pedido [de extradição de Moçambique] têm aplicabilidade na África do Sul", salientou.  
"O pedido tem por base a prática de sete crimes e o arguido não se opõe à sua extradição para Moçambique", indicou ainda o juiz.
O deputado da FRELIMO (partido no poder em Moçambique) e antigo ministro das Finanças Manuel Chang encontra-se detido na África do Sul desde 29 de dezembro de 2018 à luz de um mandado internacional emitido pela justiça dos Estados Unidos, que pede a sua extradição, no âmbito da sua investigação às dívidas ocultas em Moçambique.
Chang foi vice-ministro do Plano e Finanças entre 2000 e 2004, no executivo de Joaquim Chissano e ministro das Finanças nos dez anos do Governo de Armando Emílio Guebuza entre 2005 e 2015.
De acordo com a acusação norte-americana, Manuel Chang recebeu alegadamente milhões de dólares em subornos em troca de dívidas secretamente contraídas pelo Estado moçambicano, sem o conhecimento do Parlamento, entre 2013 e 2014, de mais de dois mil milhões de dólares a favor de três empresas públicas (Ematum, Proindicus e MAM) criadas para o efeito em Moçambique.

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Samuel

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