NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Segundo os resultados provinciais, a FRELIMO e Filipe Nyusi venceram as
eleições em Moçambique. O pleito pouco teve a ver com o funcionamento
duma democracia exemplar, diz Johannes Beck, chefe de redação da DW
África.
Johannes Beck chefia a DW África
As eleições em Moçambique foram "calmas e pacíficas", de acordo com
vários relatórios sobre as eleições em Moçambique a 15 de outubro. De
uma forma ou de outra, um veredicto espantoso perante dois manifestantes
mortos e numerosos feridos por tiros disparados pela polícia em
Nacala-Porto, província de Nampula, no norte do país.
Mas para
que as eleições sejam livres, justas e transparentes não conta apenas o
próprio dia da votação, mais importante são os meses e anos anteriores.
Eleições justas requerem um clima aberto de competição democrática que
respeite outras posições e filiações partidárias. Infelizmente, há anos,
Moçambique não tem dado um bom exemplo.
Problema 1: Violência contra membros da oposição
Nos últimos anos, várias figuras importantes da oposição, como o edil de Nampula, Mahamudo Amurane, e intelectuais críticos, como o constitucionalista franco-moçambicano Gilles Cistac, foram assassinados. Em quase todos os casos, os assassinos escaparam impunemente.
Uma exceção foi o último assassinato na província de Gaza, onde, a 7 de outubro, quatro membros de uma unidade de elite da polícia moçambicana alvejaram o observador eleitoral Anastácio Matavel. Foram apanhados em flagrante delito e identificados pela polícia local, que aparentemente não tinha conhecimento dos planos.
O
resultado destes assassinatos políticos é um clima de intimidação. Um
clima em que membros da oposição, os seus familiares e jornalistas
críticos são intimidados ou até ameaçados de morte. E já parece quase
normal em Moçambique que os funcionários da administração pública sejam
obrigados a participar nos eventos do partido FRELIMO durante o seu
horário de trabalho.
Problema 2: Violência da oposição
Mas
mesmo o maior partido da oposição, a RENAMO, está a ajudar a envenenar o
clima democrático. Nos últimos anos, tem atacado repetidamente
automóveis, autocarros e camiões, matando muitas pessoas inocentes. A
RENAMO tem criado uma tensão constante com as suas ameaças, diretas ou
indiretas, de escalada da luta armada.
Embora o líder do partido Ossufo Momade tenha assinado um acordo de paz com o chefe de Estado Filipe Nyusi ainda
antes das eleições, o desarmamento dos combatentes da RENAMO não teve
boa progressão desde então. Um grupo radical, liderado por Mariano
Nhongo, questiona abertamente a autoridade do líder do seu partido.
No
dia das eleições, os apoiantes da RENAMO também cometeram excessos
violentos em alguns locais: incendiaram seis mesas de voto na província
do Niassa, no norte do país, e tentaram roubar urnas na província
central de Sofala, porque suspeitavam da ocorrência de fraude eleitoral.
Isto também não contribui para um clima pacífico para que uma
concorrência saudável de ideias possa florescer.
Problema 3: Recenseamento eleitoral injusto e irregularidades na contagem
Foram
alcançados resultados surpreendentes no período que antecedeu as
eleições quando o recenseamento eleitoral teve lugar. Na província de
Gaza, baluarte da FRELIMO no sul de Moçambique, as autoridades
eleitorais fizeram um grande trabalho. Aqui foram registados mais
230.000 eleitores do que a província tem de habitantes adultos, de
acordo com as estatísticas oficiais. Por outro lado, os eleitores nos
bastiões da oposição foram registados de forma lenta e não tão
abrangente.
O resultado em Gaza com 95% para a FRELIMO e Filipe
Nyusi fala por si mesmo. Faz lembrar os resultados de países socialistas
e monopartidários.
Em quase todas as províncias, inúmeras
irregularidades foram reportadas por observadores e partidos da oposição
durante a votação e a contagem. Enchimento de urnas, invalidação de
votos válidos que não foram a favor da FRELIMO, falta da afixação dos
resultados em lugares públicos são apenas algumas. Os dois maiores
partidos da oposição, a RENAMO e MDM, já anunciaram que contestam os
resultados.
Mas mesmo sem estas irregularidades no registo dos
eleitores e sem as manipulações na contagem dos votos comunicados pelos
observadores, penso que a FRELIMO teria provavelmente vencido as
eleições a nível nacional, já que a sua vantagem nos resultados
provinciais publicados até agora é muito clara.
Vitória da FRELIMO não significa apenas algumas manchas
As
irregularidades, porém, não são apenas manchas, mas sim o resultado de
deficiências profundas no sistema democrático de Moçambique.
O
antigo movimento de libertação governa o país há 44 anos, ou seja, desde
a independência de Portugal em 1975. Até à data, a FRELIMO não
conseguiu estabelecer uma cultura democrática em que fosse possível uma
coexistência pacífica e uma concorrência leal entre diferentes ideias e
partidos em todo o país.
Estes são problemas que os doadores
ocidentais ignoraram durante muito tempo. Parecia mais fácil apresentar
Moçambique como um modelo para uma ajuda ao desenvolvimento bem
sucedida.
De cinco em cinco anos, após as eleições, os doadores
fizeram advertências para que o Governo melhorasse a sua atuação, apenas
para brevemente esquecer os próprios avisos. Mas a verdadeira
democracia tem de ser vivida todos os dias, não apenas em dias de
eleição: Moçambique ainda tem grandes desafios pela pela frente!
fonte: DW Africa
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