NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Marcelino dos Santos, ao centro, com Agostinho Neto, após a proclamação da independência de Angola em novembro de 1975
Alain MINGAM/Getty Images
Nascido em 20 de maio de 1929, na Ilha de Moçambique,
norte do país, Marcelino dos Santos interessou-se pela causa da
independência de Moçambique muito antes de se juntar à Frelimo,
movimento criado em 1962.
Marcelino dos Santos, que morreu esta terça-feira de doença, aos 92 anos,
viveu tão intensamente a sua ligação à causa nacionalista e à Frente de
Libertação de Moçambique que afirmou: "Não sou da Frelimo, sou a
Frelimo".
Nascido em 20 de maio de 1929, na Ilha de Moçambique, norte do país,
Marcelino dos Santos interessou-se pela causa da independência de
Moçambique muito antes de se juntar à Frelimo, movimento criado em 1962.
Durante a sua passagem por Lisboa (1948-1951) destacou-se, na Casa dos
Estudantes do Império e no Centro de Estudos Africanos, como militante
anticolonialista.
Após abandonar a capital portuguesa por volta
de 1951, devido à impiedosa perseguição movida pela PIDE (Polícia
Internacional e de Defesa do Estado), rumou para Paris, onde estreitou a
relação com o nacionalista angolano Mário Pinto de Andrade.
Os
dois estabeleceram vínculos de amizade e camaradagem com quase todos os
dirigentes dos movimentos que conduziram as antigas colónias francesas
de África à independência.
Marcelino dos Santos exerceu um papel
crucial na mobilização de muitos intelectuais franceses, que escreveram a
Salazar a exigir-lhe a independência para as colónias e a libertação
imediata do nacionalista, e mais tarde primeiro Presidente da República
Popular de Angola, Agostinho Neto, que estava preso.
Com Mário
Pinto de Andrade, Amílcar Cabral e Aquino de Bragança, Marcelino dos
Santos criou em 1961 a Conferência das Organizações Nacionalistas das
Colónias Portuguesas (CONCP), tendo sido eleito seu secretário-geral em
Rabat, capital de Marrocos.
Ainda nesse ano, Marcelino dos Santos
adere à União Democrática Nacional de Moçambique (Udenamo) e escreve os
estatutos desta organização. A Udenamo participou mais tarde na fusão
das três organizações que resultaram na fundação da Frelimo.
Redigiu
os estatutos da Frelimo, tendo-se tornado chefe das Relações Exteriores
e chefe do Departamento de Orientação Política. Nessas funções, foi
determinante no reconhecimento internacional da Frelimo como
representante legítimo da causa da luta do povo moçambicano pela
independência e na definição da estratégia de luta política e armada
para o alcance desse objetivo.
Em pleno auge das guerras contra o
colonialismo português, Marcelino dos Santos, Agostinho Neto e Amílcar
Cabral, histórico nacionalista do Partido Africano da Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foram recebidos pelo papa Paulo VI no
Vaticano, em 01 de julho de 1970, provocando a ira do Governo português.
Com
o assassinato do primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, em 3
de fevereiro de 1969, Marcelino dos Santos fez parte do triunvirato
escolhido para a liderança do movimento até à escolha de uma nova
direção. Na sequência do afastamento de Uria Simango do triunvirato,
devido a divergências internas, Samora Machel foi eleito presidente da
Frelimo e Marcelino dos Santos vice-presidente.
Após a
independência de Moçambique em 25 de junho de 1975 e a assunção da
chefia do novo Estado moçambicano pela Frelimo, Marcelino dos Santos foi
nomeado, em 1977, ministro para a Coordenação Económica e
posteriormente secretário da Comissão Permanente da Assembleia Popular
(depois Assembleia da República). Em 1986, assume a presidência da
Assembleia Popular, cargo que exerce até à investidura da primeira
Assembleia da República multipartidária, em 1994.
Fiel aos
princípios em que acreditava e marxista-leninista assumido, sempre se
referiu à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), hoje principal
partido da oposição, como "bandidos armados", em alusão ao envolvimento
da organização na guerra civil que durou 16 anos até à assinatura do
Acordo Geral da Paz.
Marcelino dos Santos negou publicamente
cumprimentar o falecido líder da Renamo Afonso Dhlakama e declarou
várias vezes o seu desencanto com a viragem para o capitalismo da "sua"
Frelimo. Debilitado pela doença, aparecia raramente em público nos
últimos tempos, deslocando-se com um andarilho. Além de político, era um
entusiasta da poesia, tendo assinado vários poemas com os heterónimos
'Kalungano' e 'Lilinho Micaia'.
fonte: expresso.pt
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