Os organizadores da manifestação da passada quinta-feira (10.12) contra o desemprego em Angola denunciam que se está a fazer um aproveitamento político para incriminar os ativistas que escalaram a estátua de Agostinho Neto, o primeiro Presidente angolano.
Os manifestantes estão a ser acusados pelo governo provincial de Luanda de "profanarem a figura de Agostinho". Os Caminhos de Ferros de Luanda também alegam a vandalização de um de seus comboios.
Ministro Francisco Queiroz
Nas redes sociais, as opiniões dividem-se e levanta-se o debate sobre os símbolos nacionais. Em declarações ao jornal O País, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, considerou como profanação os atos dos ativistas e garantiu que podem ser responsabilizados judicialmente.
Para o ministro, disposições legais podem vir a ser despoletadas para que "os jovens manifestantes venham a ser responsabilizados pelo abuso e vandalismo à figura do primeiro Presidente da Republica, António Agostinho Neto".
Aproveitamento político
Pedrowski Teca, organizador da manifestação da última quinta-feira, afirma que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, está a fazer o aproveitamento político do assunto para descredibilizar a imagem dos jovens que protestam a favor de melhores condições de vida para os angolanos.
Pedrowski explica que a finalidade dos manifestantes foi colocar na estátua do primeiro Presidente de Angola uma camisola com o rosto de Inocêncio Matos. O manifestante de 26 anos foi morto durante um protesto em Luanda a 11 de novembro com um golpe na cabeça. O assassínio gerou grande revolta em Angola.
O ativista Pedrowski Teca afirma que os manifestantes queriam apenas exigir justiça pela morte de Inocêncio Matos.
"Eles não contavam que tivéssemos a coragem de fazer o que fizemos. Pior ainda, pensaram que quando escalámos a estátua iríamos derrubá-la. Mas não era a nossa intenção", explicou.
Pedrowski Teca justifica que a trajetória percorrida pelos manifestantes não tem caminhos de ferros para serem acusados de arremessarem pedras contra uma locomotiva. Reagindo aos pronunciamentos do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, afirmou que o Largo da Independência, onde está a estátua, não é um santuário para ser profanado.
"Estamos diante da estátua de alguém que usurpou a independência de Angola por ambição. O ministro foi infeliz, porque a Constituição da República não designa a estátua de Agostinho Neto ou qualquer outra estátua como sendo símbolo nacional", disse.
"Ouvimos as mesmas críticas da governadora de Luanda e também do Bureau Político do MPLA. Eles não têm onde pegar e pensaram que as pessoas estariam distraídas. Pensaram que as pessoas não conhecessem a Constituição. Mas o que estamos a ver é que a opinião pública nacional e os peritos em leis estão a contradizer-se", concluiu.
Nuno Dala intimado pelo SIC
Nuno Dala esteve no protesto em que também se exigia a realização das eleições autárquicas. O jovem ativista foi intimado a comparecer no Serviço de Investigação Criminal (SIC) esta terça-feira (15.12).
Nuno Dala
Em entrevista à DW África, Dala disse que não atendeu à intimação, porque o SIC não esclareceu a razão da notificação.
"De acordo com os meus advogados, não existem garantias processuais em sede das quais se pode justificar, em termos de racionalidade jurídica,a minha presença no SIC", sublinhou.
"Em segundo lugar, a notificação foi entregue 'em cima do joelho', ou seja, foi na sexta-feira passada, dia 11, que o oficial de diligência remeteu o aviso de notificação, o que me deu pouco espaço de manobra para efetivamente adequar a agenda para que pudesse estar no SIC", acrescentou o ativista.
Nuno Dala sublinha ainda que os manifestantes não violaram a lei e que não houve vandalismo.
"São críticas de pessoas que não estiveram lá, pessoas que não se deram ao trabalho de avaliar a relação que existe entre os objetivos da manifestação, a frustração que a juventude enfrenta atualmente e o entendimento da juventude em relação à morte de Inocêncio Matos, bem como efetivamente, a leitura que os jovens têm da história do nosso país, de 1975 para aqui. Isso permite compreender o que houve na manifestação do dia 10", justificou Dala.
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Samuel