Quando o Uganda ordenou o encerramento da Internet na véspera das eleições presidenciais, o comércio de amendoins de Susan Tafumba foi duramente afetado.
A jovem de 34 anos vende amendoins no mercado Nakawa de Kampala, mas grande parte do seu negócio vem agora através de uma aplicação de telemóvel que os clientes utilizam para encomendar bens que lhes são entregues por táxis de motociclos.
"Normalmente a aplicação dá-nos mais lucro do que aquelas pessoas que chegam diariamente ao mercado, mas perdemos clientes", disse Tafumba, uma das inúmeras comerciantes cuja subsistência está cada vez mais dependente da tecnologia.
"Estamos a trabalhar normalmente depois de a Internet ter voltado. Estou à espera de as encomendas voltarem a chegar", disse, acrescentando que perdeu cerca de 300 mil xelins ugandeses – o equivalente a 67 euros.
Desculpas pelo "incómodo"
A nação da África Oriental levantou o "blackout" na segunda-feira (18.01), mais de 100 horas depois de o ter imposto às vésperas das eleições de 14 de janeiro.
As autoridades pediram desculpas pelo incómodo e disseram que o encerramento era para evitar interferências externas nas eleições. O veterano líder Yoweri Museveni foi declarado vencedor na disputa contra o oposicionista Bobi Wine, uma estrela da música pop que enveredou pela política .
Os defensores dos direitos digitais disseram que o bloqueio deixou os cidadãos incapazes de pagar contas, enviar dinheiro à família e de se deslocar.
"O encerramento significava negar às pessoas o acesso a fontes de subsistência", disse Felicia Anthonio, ativista do #KeepItOn, um movimento global que luta contra o encerramento da Internet.
"As empresas do sector formal e informal, educação, saúde, meios de comunicação social, grupos da sociedade civil, e muitos outros, que dependem cada vez mais da Internet e das plataformas digitais para manterem as suas atividades, sofreram um enorme impacto", disse.
A Internet Freedom Monitor Netblocks calcula que o encerramento de quase cinco dias custou à economia ugandesa o equivalente a 7,5 mil milhões de euros. Isto inclui transações de dinheiro móvel - das quais muitos ugandeses dependem para pagamentos - bem como comércio eletrónico, reservas de companhias aéreas e serviços de táxi baseados em aplicações.
A Financial Technology and Service Providers Association estima que as empresas do sector perderam pelo menos 66 mil milhões de xelins ugandeses (mais de 14 milhões de euros) diariamente durante o encerramento.
"Fraude generalizada"
O opositor Bobi Wine, que se encontra em detenção domiciliária, alega fraude generalizada nas eleições e diz que o desligamento em massa da Internet significou que não pôde comunicar com os seus observadores nas mesas de voto e partilhar provas de violações eleitorais.
Os defensores dos direitos digitais afirmaram que o "blackout" da Internet foi uma tentativa deliberada do Governo de manter os cidadãos e o resto do mundo no escuro durante os períodos eleitorais – que tiveram registo de repressão de oposicionistas, meios de comunicação e sociedade civil.
Embora esta seja a primeira vez que o Uganda bloqueou a Internet, outras formas de restrições em não são invulgares, segundo ativistas. Segundo I Data Reportal, havia mais de dez milhões de usuários da Internet no Uganda em 2020, o equivalente a 24% da população.
O Governo proibiu os meios de comunicação social e as transferências de dinheiro em 2016 e SMS foram bloqueados nas eleições de 2011. Em 2006, autoridades também bloquearam sítios críticos ao governo.
fonte: DW África
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Samuel