por Edu Montesanti
Considerando o misterioso encontro do dia 1 em Brasília entre Bolsonaro e William Burns, diretor da CIA, “sugestiva”, o legendário sociólogo e linguista estadunidense avalia que “um golpe militar não parece fora de questão”.
Ou na menos grave das hipóteses, a visita de Burns pode ter relação com o “andamento de um 'golpe suave', como o impeachment de Dilma por parte de um bando de gangsters corruptos, por motivos fraudulentos”, aponta Chomsky, ao mesmo tempo que descarta a possibilidade de Bolsonaro ser impedido. “No quadro do sistema parlamentar, muitas barreiras podem ser impostas”.
O jogo de interesses geralmente fala mais alto em democracias frágeis como a do Brasil que traz, já na Constituição, “brechas” para que existam, sempre que interessar possa a “alguns”, determinadas “barreiras” em favor dos detentores do poder.
“Há motivos para preocupação de que algum tipo de operação possa estar em estágio de planejamento, para levar adiante o 'golpe suave' da última década”, afirma “o intelectual mais respeitado da nossa geração” segundo The New York Times, observando com grande preocupação as ameaças do às eleições do ano que vem pelo presidente brasileiro que, em sua concepção, “trabalha abertamente no descrédito, ao estilo de Trump, da eleição que ele não venha a ganhar”.
Igualmente procurado para comentar a reunião do presidente brasileiro com o chefe da CIA, o denunciante americano John Kiriakou, ex-agente da Agência Central de Inteligencia, considerou-a "estranha", apesar de apontar que não são incomuns encontros de agentes secretos dos Estados Unidos com seus homólogos e até presidentes de países aliados.
Deep State
No Brasil, tem sido considerada por alguns especialistas a possibilidade de a visita de Burns ao Brasil como coordenada pelo chamado “deep State”, ou em tradução livre “Estado permanente” (segundo a ideia do termo).
Teria, assim, fugido ao escopo do presidente Joe Biden, quem tem se manifestado, desde o início do mandato em janeiro passado, como oponente de Bolsnaro.
Kiriakou desconsidera completamente esta hipótese, afirmando que essas reuniões nunca são secretas do presidente americano.
“Na verdade, o diretor da CIA geralmente leva uma mensagem do presidente dos Estados Unidos ao presidente que ele está visitando”, observa o primeiro oficial da inteligência dos Estados Unidos a denunciar o método de torturas da CIA contra prisioneiros suspeitos de atos terroristas.
A mão de Biden
“Biden faz parte do Estado permanente. Ele está em Washington desde 1972. Foi senador, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, presidente do Comitê Judiciário do Senado e vice-presidente [de Brack Obama]. Foi Biden quem enviou Burns para se encontrar com Bolsonaro”, afirma Kiriakou.
Fechando com chave de enferrujado latão o mês de julho que acumulou mais ataques crescentes à já combalida democracia brasileira por parte de Bolsonaro e seu entorno, “gangsters” segundo o pensador americano, tudo isso sob a mais dócil passividade do sistema de Justiça, do Congresso e da oposição ao “governo”, surge a “promotora de justiça” da cidade paulista de Arthur Nogueira para advogar pela causa de um empresário que, simplesmente, ameaçou de morte o ex-presidente Lula, através de um vídeo com revolver nas mãos.
Evidenciando, um vez mais, que arbitrariedade e pateticidade não encontram limites nos dias de hoje no Brasil, a “promotora” Maria Paula Machado de Campos determinou que José Sabatini fez uso da “liberdade de expressão” ao ameaçar matar Lula.
Para Maria de Campos, “O direito penal não pode ser usado para intimar, calar ou censurar o indivíduo na sua livre manifestação de pensamento”.
Sobre “possiveis excessos”, a “promotora alegou que o empresario agiu deixando-se “comover pelo atual momento político do país” pois, segundo ela, tem havido uma “intensa polarização política da sociedade”, com a multiplicação de notícias veiculadas pela mídia diariamente, sobre todo tipo de tema”.
A evidente conclusão disso, que abre sérios precedentes à segurança do Lula e da própria democracia tupiniquim, é que Sabatini é vítima – e o ex-presidente, culpado.
Lula acaba culpado pela ameaça que sofreu e pela profunda atmosfera de ódio, a polarização abordada pela “promotora”.
“Raciocínio” evidenciado na decisão do Ministério Publico de Artur Nogueira a exemplo dos sucessivos, crecentes crimes contra o Estado de direito pelos usurpadores do poder no Brasil, que vem assustando todo o mundo.
Logo em seguida perguntado se Lula corre risco de ser assassinado, Chomsky explica o cenário brasileiro, remumindo-o da seguinte maneira:
“Por uma década, um 'golpe suave' está em andamento para reforçar o domínio da riqueza e do poder privados. Este programa poderia ter sido interrompido, se Lula tivesse sido autorizado a concorrer nas eleições presidenciais de 2018.
“Essa ameaça [da candidatura de Lula] foi tratada enviando-o para a prisão sob acusações frágeis, como agora se reconhece, e impedindo-o de dizer uma palavra pública durante a campanha.
“As pesquisas indicam que ele provavelmente venceria se tivesse permissão para concorrer no próximo ano.
“Há, lamentavelmente, motivos consideráveis para temer que medidas mais extremas possam ser tomadas desta vez para garantir a perpetuação do desastre que se desdobrou para o Brasil sob a mão de Bolsonaro, e com a destruição da Amazônia, para o mundo.”
Questionado se, por medidas mais extremas, o analista refere-se a um assassinato, Chomsky responde:
“Medidas mais extremas podem incluir matá-lo. Isso não está descartado.”
Terão a ameaça a Lula e a subsequente, inconcebivelmente arbitrária determinação da "promotora" de Artur Nogueira sido elaboradas em alguma espécie de "laboratório", quem sabe ainda made in USA a fim de de gerar "efeito dominó" que atente contra a vida do ex-presidente que lidera crescentemente todas as pesquisas eleitorais, diante da queda livre da popularidade de Bolsonaro?
A história está recheada de fatos assim, a começar a da política brasileira com a própria CIA. Tendo 1964, paixão declarada de Bolsonaro, como seu mais amargo precedente.
fonte: pravda.ru
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Samuel