O ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva apresentou hoje a sua candidatura às eleições presidenciais, para as quais todas as sondagens o colocam como o principal favorito à frente do actual mandatário, Jair Bolsonaro. Em entrevista à revista Time, Lula da Silva acusou os EUA e a União Europeia de não estarem a negociar a favor da paz, afirmando que, no caso da Ucrânia, Zelensky tem tanta culpa quanto Putin.
“É um momento muito especial na minha vida, especial por contar com vocês, por ter conseguido pela primeira vez unir todas as forças políticas progressistas em torno da minha campanha”, disse Lula numa cerimónia num centro de convenções em São Paulo, perante cerca de 4.000 apoiantes.
Lula da Silva justificou a entrada na corrida eleitoral para “reconstruir” o país após a gestão “irresponsável e criminosa” de Jair Bolsonaro.
Antes, Luiz Inácio Lula da Silva criticou os presidentes directamente envolvidos no conflito na Ucrânia, a União Europeia e os Estados Unidos da América, que considerou não terem negociado o suficiente a favor da paz.
“Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin não deveria ter invadido a Ucrânia”, declarou Lula da Silva, numa entrevista divulgada esta quarta-feira que é uma das capas da última edição da revista norte-americana Time.
“Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, NATO)? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, acrescentou.
Questionado novamente sobre o conflito, o líder brasileiro, apresentado no texto como o candidato que lidera as sondagens para a eleição presidencial no Brasil marcada para Outubro, também disse não saber se o desejo da Ucrânia de entrar na NATO (OTAN) conduziu à invasão da Rússia, como justificou o Governo russo no início da guerra.
“Esse é o argumento que está colocado. Se tem um segredo nós não sabemos. O outro é a possibilidade de a Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!”, avaliou Lula da Silva.
O ex-presidente brasileiro considerou que as conversas para evitar a guerra na Ucrânia “foram muito poucas”, frisando que os países envolvidos no conflito “poderiam ter-se sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução”. ”Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério”, sustentou.
Lula da Silva criticou directamente o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmando que ele é tão responsável quanto o Putin pela guerra. “Ele, Zelensky, é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”, disse o ex-presidente brasileiro.
O líder progressista brasileiro considerou que o Presidente da Ucrânia “quis a guerra” porque se ele “não quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais”.
“É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo”, afirmou Lula da Silva.
“Zelensky fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, concluiu.
Na entrevista, a revista norte-americana lembrou que Lula da Silva deixou o poder no Brasil (2003-2010) como o Presidente mais popular da história do país, citando também as reviravoltas da sua trajectória política nos últimos anos.
O artigo lembra as condenações do ex-presidente, que foi considerado culpado num processo da Operação Lava Jacto, pelo qual passou 580 dias preso, tendo sido libertado em 2019 após o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar que foi julgado por um juiz suspeito e parcial, o ex-ministro Sérgio Moro – posição reiterada na semana passada pelo Comité de Direitos Humanos da ONU.
Folha 8 com Lusa
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Samuel