NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Por: Samuel Pinheiro Guimarães
na Carta Capital
(Distribuído por e-mail,
para assinantes do Boletim "Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes,
do MST")
1 Há um clamor público,
uma revolta de todas as classes da sociedade, contra as revelações de
corrupção.
2 Quando terá começado
a corrupção? Quem são os culpados? É um fenômeno exclusivamente brasileiro ou
do mundo subdesenvolvido ou humano em geral? A quem interessa? Ocorre apenas no
setor público? Será uma característica inata da sociedade brasileira?
3 Os incidentes de
corrupção que a operação Lava Jato vêm desvendando e que vazam para a imprensa,
sem provas e a conta gotas, por quem deveria preservar o sigilo das
investigações e a reputação dos acusados (mas não culpados por que não foram
julgados) estariam relacionados com o financiamento de campanhaseleitorais.
4 O sistema de
financiamento de campanhas eleitorais está vinculado à representação de interesses
econômicos no Legislativo e no Executivo. O caso do Judiciário é um tema a
parte, ainda que de grande interesse.
5 O candidato Aécio
Neves gastou em sua campanha eleitoral, de acordo com as declarações ao TSE,
cerca de 201 milhões de reais. A candidata Dilma Rousseff gastou cerca de 318
milhões de reais. O custo total das campanhas para presidente, governador,
senador e deputado foi de cinco bilhões de reais.
6 De onde vieram esses
recursos? Certamente (ou muito raramente) não vieram da fortuna pessoal dos
candidatos, mas sim de doações, principal ou quase exclusivamente, de grandes
empresas privadas.
7 O custo das campanhas
é em extremo elevado devido aos custos de produção e de veiculação de programas
de televisão, das viagens que se fazem necessárias devido à extensão
territorial do país, dos custos de material de propaganda e de sua
distribuição.
8 O objetivo dos que
defendem o financiamento privado das campanhas eleitorais está vinculado à
principal característica da sociedade brasileira que é a concentração de renda
e de riqueza.
9 A concentração
de renda é, em geral, estimada a partir dos rendimentos do trabalho conforme
declarados à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo
IBGE.
10 Os rendimentos do
capital, isto é os lucros, os juros, os aluguéis, são subdeclarados na PNAD e a
Secretaria da Receita Federal não publica esses dados de acordo com a sua
distribuição por faixa da população, ainda que sem quebra de privacidade dos
declarantes do Imposto de Renda.
11 A estimativa é de
que os rendimentos do trabalho correspondam a cerca de48% da renda nacional.
12 O salário mínimo é
de 788 reais, o salário médio do trabalhador brasileiro é inferior a 2.300
reais por mês e 90% dos brasileiros ganham até cinco salários mínimos por mês.
13 São 13,7 milhões de
famílias que recebem o Bolsa Família. Isto significa que cerca de 50 milhões de
brasileiros tem rendimento mensal inferior a 77
reais. Por outro lado, há, no Brasil,cerca de 46bilionários e 10.300
multimilionários, estes com patrimônios pessoais superiores a 23 milhões de
reais.
14 Muitos são os
mecanismos de concentração de renda e de riqueza.
15 Entre esses
mecanismos estão às taxas de juros, o sistema tributário, os créditos do Estado
a empresas e o sistema de aluguéis.
16 Quanto mais elevadas
às taxas de juros "autorizadas" ou permitidas pelas autoridades
monetárias maior a transferência de riqueza de devedores, que são a enorme
maioria da população, para os credores privados, detentores do capital, e do
Estado para os seus credores.
17 O sistema tributário
pode ser regressivo ou progressivo. O sistema se diz regressivo quando a maior
parte dos impostos arrecadados provêm da maioria da população, sem distinçãode
seu nível de renda (imposto sobre o consumo, por exemplo) e se diz progressivo
quando os indivíduos detentores de maior riqueza ou de mais alto nível de renda
pagam mais impostos mesmo em proporção a sua riqueza ou renda. É fato que um
sistema regressivo de tributação concentra renda e riqueza. As isenções de
impostos, as restituições e as desonerações para empresas ou indivíduosacentuam
a concentração de renda.
18 Os créditos
fornecidos pelo Estado privilegiamem geral as maiores empresas e, portanto,
seus proprietários que são os indivíduos mais ricos da sociedade.
19 A leniência do
Estado para com a evasão de tributos ou com seu não pagamento (por exemplo,
pela não criminalização da evasão, pelo parcelamento e perdão das dívidas
tributárias) também concentra renda e riqueza. São brasileiros os proprietários
de 530 bilhões de dólares depositados em paraísos fiscais.
20 A concentração de
renda e de riqueza em mãos de uma ínfima minoria da população brasileira tem
importantes efeitos sobre o sistema democrático e sobre os episódios de
corrupção.
21 Os indivíduos
detentores de riqueza e renda tem interesse em preservar os mecanismos de
concentração e interesse em que não surjam instrumentos legais (leis ou
programas) que desconcentrem riqueza e renda.
22 Ora, as normas (as
leis) que definem a estrutura e o mecanismo de riqueza, propriedade e renda
(legislação trabalhista, tributária, monetária, da propriedade rural e urbana,
etc.) são elaboradas no Legislativo, eventualmente no Executivo e cada vez mais
no Judiciário.
23 Em um país de grande
concentração de riqueza e renda, de elevado grau de urbanização, de grande
penetração dos meios de comunicação, de sistema democrático e eleitoral
relativamente livre de fraudes, seria natural que a enorme maioria da população
(que é pobre ou no máximo remediada) elegesse a maioria dos representantes no
Congresso, que deveriam ser como ela pobres e remediados e, portanto,
legisladores dispostos a redistribuir a riqueza e a renda ou pelo menos a
minorar os mecanismos de concentração.
24 Não é isto o que ocorre.
25 A ínfima minoria
milionária e bilionária tem, assim, de procurar instrumentos para influir no
processo político para evitar esse tipo de legislação e de ação redistributiva
no Executivo. Essas, quando ocorrem, são taxadas de comunistas, socialistas,
nacionalistas, e hoje em dia de bolivarianas.
26 O primeiro e mais
importante desses instrumentos é o financiamento privado (empresarial) das
campanhas eleitorais.
27 O segundo
instrumento é o controle dos Partidos para que estes escolham como seus
candidatos indivíduos que sejam favoráveis à sua visão (isto é, daquela
minoria) da sociedade, ainda que não sejam eles mesmos, do ponto de vista
pessoal, detentores de riqueza e renda elevadas.
28 O terceiro
instrumento é o controle dos meios de comunicação para convencer a população
das deficiências do Estado, do caráter corrupto dos candidatos dos Partidos e
das políticas populares (isto é, daqueles comprometidos com programas de
reforma social que leva à desconcentração de riqueza e renda).
29 O quarto instrumento
é a campanha permanente dos meios de comunicação de desmoralização da atividade
política, do Estado e dos políticos para manter a maioria do povo afastada da
política. Uma das formas de manter o povo afastado da política seria a
aprovação do voto facultativo como se este fosse apenas um direito e não um
dever.
30 A campanha pela
reforma política deve se concentrar no tema central do financiamento
empresarial das campanhas, que é a verdadeira fonte de corrupção e de controle
oligárquico, não democrático, da sociedade por aqueles que concentram o poder
econômico e controlam os meios de comunicação.
31 Os representantes
das forças conservadoras no Congresso Nacional já se empenham para votar o
projeto que consagra o financiamento privado, isto é, empresarial, das
campanhas eleitorais.
32 A consagração legal
do financiamento privado consagrará o sistema fundamental de corrupção do
processo político que tem como objetivo impedir a desconcentração de riqueza e
renda que torna o Brasil um dos países mais injustos do mundo.
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Samuel