A intervenção militar de Moscovo na Síria não revirou simplesmente a
sorte das armas e semeou o pânico entre os jiadistas. Ela tem mostrado ao resto
do mundo, em situação de guerra real, as actuais capacidades do exército russo.
Para surpresa geral, este dispõe de um sistema de empastelamento capaz de
tornar a Aliança Atlântica surda e cega. Apesar de um orçamento muito maior, os
Estados Unidos acabam de perder a sua preponderância militar.
Thierry Meyssan
A intervenção militar russa na Síria, que devia ser uma aposta arriscada
para Moscovo (Moscou-br) face aos jiadistas, transformou-se numa manifestação
de poderio que altera o equilíbrio estratégico mundial. Concebida à partida
para isolar os grupos armados dos Estados que os apoiam, em violação das
resoluções decisivas do Conselho de Segurança, depois destruí-los, a operação é
conduzida para cegar o conjunto dos actores ocidentais e seus aliados. Estupefacto,
o Pentágono está dividido entre os que tentam minimizar os factos, e encontrar
uma falha no dispositivo russo, e aqueles que, pelo contrário, consideram que
os Estados Unidos perderam a sua superioridade em matéria de guerra
convencional e que lhes será necessário longos anos para a recuperar.
Lembre-se que em 2008, aquando da guerra da Ossétia do Sul, as Forças
russas foram capazes de repelir o ataque georgiano, é certo, mas haviam
mostrado ao mundo, sobretudo, o estado deplorável do seu equipamento. Ainda há
dez dias atrás, o antigo secretário da Defesa, Robert Gates, e a antiga
conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, falavam do exército russo
como uma força de «segundo nível». Desde o início da colocação militar (na
Síria- ndT), a Rússia instalou um centro de empastelamento em Hmeymim,
a norte de Lataquia. De repente, o incidente do USS Donald Cook repetiu-se,
mas, desta vez, num perímetro de 300 km; incluindo a base da Otan em Incirlik
(Turquia). E, ainda persiste. Tendo o evento ocorrido durante uma tempestade de
areia de densidade histórica, o Pentágono acreditou, inicialmente, que os seus
instrumentos de medição estavam desregulados, antes de constatar que eles
estavam "baralhados". Todos alvo de empastelamento electrónico.
Ora, a moderna guerra convencional repousa no «C4i»; uma sigla
correspondendo aos termos em Inglês de «command» (comando), «control» (contrôlo),
«communications» (comunicações), «computers» (computadores) e «intelligence» (inteligência).
Ossatélites, osaviões e os drones (aviões teleguiados), os navios e submarinos,
os blindados, e garatém me smo que os combatentes estão ligados uns aos outros por
comunicações permanentes, que permitem aos estados maiores com andar das batalhas.
É todo este conjunto, o sistema nervoso da Otan, que está actualmente
empastelado na Síria e numa parte da Turquia.
Segundo o perito romeno Valentin Vasilescu a Rússia teria instalado
vários Krasukha-4, teria equipado os seus aviões de aparelhos de guerra electrónica
SAP / SPS-171 (como o avião que sobrevoou o USS Donald Cook), e os
seus helicópteros Richag -AV. Além disso, usaria o navio-espião Priazovye (da
classe Projecto 864, Vishnya na nomenclatura da Otan), no Mediterrâneo.
Parece que a Rússia assumiu o compromisso de não perturbar as
comunicações de Israel ---coutada guardada dos E. U.---, de modo que se guarda
de implantar o seu sistema de empastelagem no Sul da Síria.
As aeronaves russas deram-se ao luxo de violar um monte de vezes o
espaço aéreo turco. Não para medir o tempo de reação da sua Força Aérea, mas
para verificar a eficácia do empastelamento-electrónico na zona requerida, e
para vigiar as instalações colocadas à disposição dos jiadistas na Turquia.
Mísseis de cruzeiro
de ultra-desempenho
Finalmente, a Rússia utilizou várias novas armas, como os 26 mísseis de
cruzeiro furtivos 3M-14T Kaliber-NK, equivalentes aos RGM/UGM-109E Tomahawk.
Disparados a partir da Frota do Mar Cáspio--- sem qualquer fundamento
militar---, eles atingiram e destruíram 11 alvos situados a 1.500 km de
distância, na zona não-empastelada --- afim de que a Otan pudesse apreciar o
desempenho---. Estes mísseis sobrevoaram o Irão e o Iraque, a uma altitude
variável de 50 a 100 metros, segundo o terreno, passando a quatro quilómetros
de um drone norte-americano. Nenhum se perdeu, ao contrário dos americanos
cujos erros se situam entre os 5 e os 10%, segundo os modelos. De passagem,
estes disparos mostram a inutilidade das despesas faraónicas do «escudo»
anti-mísseis construido pelo Pentágono em volta da Rússia -mesmo se era
oficialmente justificado como estando dirigido "contra os lançadores
iranianos.
Sabendo que estes mísseis podem ser disparados a partir de submarinos,
localizados em qualquer ponto dos oceanos, e que eles podem transportar ogivas
nucleares, os Russos recuperaram o seu atraso em termos de lançadores.
Em última análise, a Federação da Rússia seria destruída pelos Estados
Unidos--- e vice-versa--- -em caso de confrontação nuclear, mas sairia
vencedora em caso de guerra convencional.
Apenas os Russos e os Sírios estão à altura de avaliar a situação no
terreno. Todos os comentários militares vindos de outras fontes, aqui incluídos
os jiadistas, são infundados, porque só a Rússia e a Síria tem uma visão do
terreno. Ora, Moscovo e Damasco entendem tirar o máximo partido da sua vantagem
e, mantêm pois, o sigilo sobre as suas operações.
Dos poucos comunicados públicos, e confidências de oficiais, pode
concluir-se que pelo menos 5.000 jiadistas foram mortos, entre os quais
numerosos chefes da Ahrar al-Sham, da al-Qaida e do Emirado Islâmico. Pelo
menos 10.000 mercenários fugiram para a Turquia, Iraque e Jordânia. O Exército
Árabe Sírio e o Hezbolla reconquistaram o terreno sem esperar pelos anunciados
reforços iranianos.
A campanha de bombardeamentos deverá terminar no Natal ortodoxo. A
questão que se colocará então será saber se a Rússia está autorizada, ou não, a
terminar o seu trabalho, perseguindo para tal os jiadistas que se refugiam na
Turquia, no Iraque e na Jordânia. Caso contrário, a Síria seria salva, mas, o
problema também não seria resolvido por completo. Os Irmãos Muçulmanos não
deixariam de procurar uma revanche e os Estados Unidos de os utilizar, de novo,
contra outros alvos.
Areter:
A operação russa na Síria foi concebida para privar os grupos jiadistas
do apoio estatal de que dispõem, sob a cobertura de ajuda aos «opositores
democráticos».
Ela exigiu a utilização de armas novas e transformou-se numa demonstração de força russa.
A Rússia dispõe agora de uma capacidade de empastelamento-electrónico de todas as comunicações da Otan. Ela tornou-se a primeira potência em matéria de guerra convencional.
Este desempenho ateou a discórdia em Washington. É muito cedo para dizer se ela será favorável ao presidente Obama ou se isto será utilizado pelos «falcões liberais» para justificar um crescimento do orçamento militar.
Ela exigiu a utilização de armas novas e transformou-se numa demonstração de força russa.
A Rússia dispõe agora de uma capacidade de empastelamento-electrónico de todas as comunicações da Otan. Ela tornou-se a primeira potência em matéria de guerra convencional.
Este desempenho ateou a discórdia em Washington. É muito cedo para dizer se ela será favorável ao presidente Obama ou se isto será utilizado pelos «falcões liberais» para justificar um crescimento do orçamento militar.
Thierry Meyssan
Tradução Alva
Rede Voltaire
Voltaire, edição internacional.
#pravda.ru
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