Angola diz que Guiné-Bissau não pode ficar "refém de caprichos pessoais" do Presidente José Mário Vaz. Enquanto isso, líder do PAIGC tem encontros agendados na ONU, em Nova Iorque.
fonte: DW África
Manuel Augusto, chefe da diplomacia angolana
O ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto, disse esta quarta-feira (26.06.) em Lisboa, que a Guiné-Bissau "não pode ficar refém de caprichos pessoais" do Presidente José Mário Vaz que, três meses após as eleições, continua sem nomear o Governo.
"Não pode aquele povo da Guiné-Bissau ficar refém de caprichos pessoais. A comunidade internacional está atenta e vai aumentar a pressão", disse Manuel Augusto, à margem do encontro anual do Conselho Europeu para as Relações Exteriores, que decorreu durante dois dias em Lisboa.
Posição da CEDEAO
Manuel Augusto lamentou, por outro lado, a falta de uma posição coesa da Comunidade Económica dos Estados da África Ociental (CEDEAO) relativamente à crise na Guiné-Bissau.
"Infelizmente, sentimos que a comunidade económica regional, a CEDEAO, está dividida e esta é uma das razões pelas quais alguns atores políticos na Guiné-Bissau tentam tirar proveito", disse.
O ministro angolano assegurou que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) está a agir, adiantando que da reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da comunidade, agendada para 19 de julho, em Cabo Verde, sairá "uma posição mais forte".
"Estamos otimistas que aqueles que estão a tentar impedir o processo [democrático] na Guiné-Bissau vão acabar por desistir e dar conta que não há clima para continuarem a manter um país e um povo refém de uma pessoa", reforçou.
Recorde-se que a Guiné-Bissau realizou legislativas em 10 de março, mas o novo primeiro-ministro só foi nomeado no sábado (22.06.), depois da CEDEAO ter admitido impor sanções a quem criasse obstáculos à concretização da ordem democrática e ter imposto até domingo passado para a situação ficar resolvida.
O Presidente guineense, que domingo (23.06.) cumpriu cinco anos de mandato e marcou eleições presidenciais para 24 de novembro, continua sem nomear o Governo, não tendo aprovado a lista de nomes proposta pelo primeiro-ministro Aristides Gomes.
Líder do PAIGC com encontros na ONU
O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, viajou na terça-feira (25.06.) para Nova Iorque para encontros nas Nações Unidas, anunciou fonte do partido.
"Concretamente vai ter encontros nas Nações Unidas" para analisar a situação política na Guiné-Bissau, disse a fonte, sem especificar com quem serão os encontros.
Fonte da ONU disse à Lusa que o comité executivo do secretário-geral da Nações Unidas reuniu-se na terça-feira para discutir a situação na Guiné-Bissau.
O PAIGC foi o partido que venceu as legislativas e apesar não ter a maioria fez um acordo de incidência parlamentar e governativa com mais três partidos, conseguindo obter 54 dos 102 deputados do parlamento da Guiné-Bissau.
O partido indicou o nome do seu líder, Domingos Simões Pereira, para o cargo de primeiro-ministro, mas o Presidente recusou, acabando por nomear Aristides Gomes, depois de apresentada nova proposta pelo partido.
Madem-G15 critica líder do PAIGC
O Movimento para a Alternância Democrática da Guiné-Bissau (Madem-G15) rejeitou esta quarta-feira as acusações do líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, sobre uma alegada tentativa de golpe de Estado.
"O Madem-G15 rejeita categoricamente estas informações completamente falsas, desenquadradas, estéreis, irresponsáveis e perigosas, com a única finalidade de branquear as verdadeiras razões que conduziram à nomeação atabalhoada de Aristides Gomes como primeiro-ministro", refere, em comunicado divulgado à imprensa, o partido, criado por um grupo de dissidentes do PAIGC.
No comunicado, o Madem-G15 lamenta também a "postura solitária do líder do PAIGC ao decidir sem nenhuma prova concreta lançar ataques contra o chefe de Estado de um país vizinho e irmão, que tem ajudado a Guiné-Bissau em diversos momentos de desencontro entre guineenses".
Campanha de desinformação
O partido, o segundo mais votado nas legislativas de 10 de março, alerta também o povo guineense e a comunidade internacional sobre as "maquiavélicas e vergonhosas campanhas de desinformação conduzidas por Domingos Simões Pereira" sobre o alegado fim do mandato do Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz.
O presidente do PAIGC acusou terça-feira o chefe de Estado guineense de tentar realizar um golpe de Estado, com apoio do Senegal, para nomear um Governo de iniciativa presidencial.
O presidente do PAIGC explicou que a "intenção não foi consumada ou terá sido abortada", porque dois dos seus "principais colaboradores", referindo-se a Braima Camará, coordenador do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), e Sola Nanquilim, vice-presidente do Partido de Renovação Social (PRS), o "teriam avisado de que as estruturas de apoio poderiam não suster a reação de outras forças de defesa e segurança e a fúria popular". "Nós suspeitamos que, para além disso, não teria recebido luz verde do padrinho da sub-região (o Presidente do Senegal, Macky Sal), que tem coordenado toda esta operação e outros desmandos do Presidente José Mário Vaz", salientou.
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Samuel