NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Em 13 e 14 de fevereiro de 1945, cidade alemã foi destruída por intenso
bombardeio dos Aliados. Neonazistas perpetuam mito do meio milhão de
vítimas, mas cidadãos mostram que sabem se opor à manipulação da
tragédia.
Dresden em ruínas após bombardeios aliados nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1945
Deve-se a Viktor Klemperer algumas das descrições mais vívidas dos
ataques aéreos a Dresden nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1945. O
escritor e linguista registrou o inferno dos bombardeios em seu famoso
diário.
"Logo se pôde ouvir os zumbidos cada vez mais profundos e
mais fortes dos esquadrões se aproximando. As luzes se apagaram, um
estrondo nas proximidades... Pausa para respirar, a gente se ajoelhava
entre as cadeiras, de alguns grupos vinham gemidos e choro – e nova
aproximação, nova angústia pelo medo da morte, novo ataque. Não sei
quantas vezes isso se repetiu."
Klemperer era um judeu convertido
ao cristianismo. A tragédia que matou 25 mil pessoas acabou evitando
sua deportação para um campo de extermínio. Os originais de seu diário,
de relevância histórica sobre o período nazista, estão hoje na
biblioteca da Universidade de Dresden, no estado alemão da Saxônia.
O
destino dessa cidade, bela ainda hoje, apesar das várias cicatrizes de
guerra, é um exemplo de como mitos são deliberadamente construídos e de
como é difícil combatê-los, por mais falsos e mentirosos que sejam.
Sim,
os ataques aéreos dos Aliados, nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1945,
tão perto do fim da Segunda Guerra Mundial, são militarmente
questionáveis. Mas não, o bombardeio de alvos específicos, que também
gerou enorme sofrimento a inocentes, não muda em nada a culpa do Reich
alemão de Adolf Hitler pela guerra.
A sobrevivência de Klemperer
foi mera sorte. Seu diário registra também seus pensamentos sobre a
morte. "Diante de mim havia um amplo espaço livre, no meio do qual
estava um enorme fuzil. Estrondos, clarão do dia, impactos. Eu não
pensava em nada, nem mesmo tinha medo, havia apenas uma enorme tensão em
mim. Acho que eu aguardava o fim."
Em
outro ponto, ele escreveu: "Não conseguia distinguir mais nada, eu
apenas via chamas por toda parte, ouvia o barulho do fogo e dos ataques,
sentia a terrível tensão interna."
Número de mortos foi determinado
Testemunhos
tão profundamente humanos de um sobrevivente não impressionam
extremistas de direita e antissemitas. Especialmente por virem de alguém
que os nazistas forçaram a usar a estrela amarela que marcava os
judeus.
Para os nazistas de hoje, trata-se de renegar a história e
inflar o número de vítimas. Para isso incorporam as mentiras de seus
ídolos criminosos e alardeiam que houve meio milhão de mortos, numa
tentativa de fazer um contraponto aos crimes nazistas.
Os fatos
não importam para eles. Assim, ignoram conclusões de cientistas, como
Thomas Widera, do Instituto Hannah Arendt para Pesquisa do Totalitarismo
de Dresden. Ele integrou a comissão de historiadores que, em 2010,
determinou o número de mortos pelos bombardeios, após cinco anos de
pesquisas: no mínimo 18 mil; no máximo 25 mil.
Pesquisas meticulosas
em arquivos e análises de materiais mostraram que outros números não
passam de imaginação. Widera dá como exemplo a suposição de que haveria
centenas de milhares de refugiados não registrados entre os mortos.
O
argumento de que o fogo teria atingido um calor de 2.000 ºC e
incinerado dezenas de milhares de pessoas sem deixar rastros é
incorreto. Essa hipótese foi excluída através de análises de
temperatura. "Elas refutam a alegação de que um amplo número de mortos
teria sido transformado em cinzas", afirmou Widera.
Segundo o
historiador, a maior parte dos mortos foi enterrada nos meses que se
seguiram ao ataque e após o fim da guerra. Entretanto, durante muito
tempo não estava claro quantas pessoas de fato perderam a vida no
inferno das chamas. A remoção sistemática dos destroços em Dresden
começou apenas no final dos anos 1940. Restos humanos foram encontrados,
mas não em grandes quantidades.
Na antiga Alemanha Oriental –
onde ficava Dresden – se falava em 35 mil mortos. Esse número se baseava
no registro de cadáveres e em projeções, explica Widera. Mesmo errado,
era bem mais próximo do número real do que o meio milhão alardeado pelos
neonazistas.
Resistência aos neonazistas
Depois
da Reunificação, neonazistas escolheram Dresden como seu principal
local de manifestação. No auge dos protestos, mais de 6 mil marcharam
pelas ruas da cidade, entrado em confronto com manifestantes
esquerdistas. Entre 2009 e 2011, Dresden era a Meca da extrema-direita
na Europa.
Iniciativas da sociedade civil surgiram para fazer
frente a essa situação. Uma delas é o grupoAG 13. Februar (Grupo de
Trabalho 13 de fevereiro). Uma grande variedade de organizações sociais
integra esse grupo que, ano após ano, planeja atos em memória da guerra e
da destruição da cidade.
Joachim Klose é o moderador de vários
encontros que reúnem partidos políticos, comunidade religiosas,
instituições culturais e muitas outras. Segundo ele, o grupo de trabalho
conseguiu "pacificar" o 13 de fevereiro.
A aliança de esquerda
Dresden Nazifrei (Dresden livre de nazistas) também ajudou a diminuir o
ímpeto dos neonazistas. Durante muito tempo, os moradores assistiram
impassíveis a marchas neonazistas travestidas de "marchas em homenagem
às vítimas". Mas esses tempos já se foram.
Desde 2010, oAG 13.
Februar organiza uma corrente humana no centro histórico da cidade no
dia do aniversário do bombardeio. No primeiro evento, 17 mil pessoas se
deram as mãos, ao badalar de sinos, para lembrar as vítimas e ao mesmo
tempo dar um exemplo de resistência ao extremismo de direita.
Klose
gostaria que mais pessoas "mostrassem a cara", mas muitos preferem
ficar em casa por medo de que haja violência. O AG 13. Februar convocou
uma manifestação também para o dia 15 de fevereiro, quando extremistas
de direita planejam marchar novamente pela cidade.
O AG 13.
Februar se tornou uma autoridade moral em Dresden, observa Klose, uma
espécie de fórum para debater como a cidade lida com o seu passado e
constrói o seu futuro.
Widera também sente o quanto a data ainda é
complicada. "É claro que existe uma alta emotividade", diz o
historiador. Essa se manifesta também no cotidiano e na política, por
exemplo na grande votação do partido populista de direita Alternativa
para a Alemanha (AfD) e do movimento xenófobo Pegida, fundado em
Dresden, em 2014.
Para Widera, datas como o 13 de fevereiro em
Dresden deveriam ser livres de viés político e colocar os mortos em
primeiro plano. "Qualquer outra coisa é inapropriada", afirma.
fonte: DW África
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