Líder do golpe Assimi Goita (esq.), Bah Ndaw e Moctar Ouane
O vice-presidente de transição no Mali, o coronel Assimi Goita, anunciou na segunda-feira (24.05) que demitiu o Presidente Bah Ndaw, bem como o primeiro-ministro, Moctar Ouané, assegurando que "o processo de transição continua o seu curso" e que haverá eleições em 2022.
O líder do golpe que em agosto de 2020 depôs o Presidente Ibrahim Boubacar Keita justificou a ação com uma "crise de muitos meses a nível nacional", em referência às greves e várias manifestações convocadas no país por atores sociais e políticos.
Mas a justificação não acalma os receios de um novo golpe de Estado no país, apenas nove meses depois. Esta terça-feira (25.05), o enviado especial da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Goodluck Jonathan, chegou a Bamako para se encontrar com as autoridades malianas e discutir a detenção dos líderes da transição pelo Exército.
"Estamos aqui porque há alguns desenvolvimentos que preocupam a CEDEAO e, como equipa de mediação, tínhamos de vir e ouvir o que aconteceu. Não podemos dizer nada muito definitivo até falarmos com o povo, a sociedade civil, os cidadãos do Mali, o Exército e aqueles que estavam no Governo", declarou.
Apelos internacionais
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou, na terça-feira (25.05), à "calma" e pediu a "libertação incondicional" dos líderes civis do Mali. A União Africana, os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Alemanha condenaram também a tentativa de golpe de Estado. França, segundo o Presidente Emmanuel Macron, está disposta a ir mais longe.
"Condenámos de forma veemente, juntamente com a União Africana e a CEDEAO, a detenção do Presidente de transição, do seu primeiro-ministro e colaboradores. O que os golpistas militares levaram a cabo foi um inaceitável golpe de Estado dentro de um golpe de Estado. Estamos prontos para impor sanções contra os responsáveis", avisou Macron.
A detenção de Ndaw e Ouané ocorreu horas após o anúncio da composição de um novo Governo formado pelo primeiro-ministro, que terá causado desconforto entre os líderes do golpe de agosto pela exclusão de dois comandantes militares.
O diretor do Centro de Investigação para Análise Política, Económica e Social no Mali, Etienne Fakaba Sissoko, aponta duas razões para a exclusão dos ministros da Defesa, Sadio Camará, e da Segurança, Modibo Koné, do Governo de transição:
"Modibo Koné, o [antigo] ministro da Segurança, aparece em muitos relatórios das Nações Unidas sobre abusos. E o coronel Sadio Camara é acusado de estar demasiado próximo da Rússia - com desvantagens para outros parceiros, como a França. Esta é uma das razões que explicaria a sua expulsão do Governo: estaria prestes a assinar acordos importantes com a Rússia. Portanto, há questões geopolíticas e geoestratégicas em jogo. Há potências internacionais em ação que têm grandes interesses no Mali."
"Transição continua o seu curso"
Numa declaração lida na televisão nacional, na tarde de terça-feira, o vice-Presidente de transição, Assimi Goita, garantiu que, apesar da demissão do Presidente e do chefe do Governo, "o processo de transição continua o seu curso" e haverá eleições em 2022.
Era essa a missão do Governo de transição empossado em setembro, quando a Junta Militar liderada por Goita aceitou passar o poder para as mãos dos civis, sob pressão internacional. E esse poderá ser o ponto-chave dos últimos acontecimentos.
"Criticam-se frequentemente estes soldados quando se tentam proteger a si próprios. Participaram num golpe de Estado e sabem quais são os riscos. Tiveram de abandonar o Governo, mas não receberam quaisquer garantias de impunidade. Isso pode levar a uma situação como esta", explica o diretor do centro de estudos Afriglob, Boubacar Salif Traoré.
Apesar do ambiente de incerteza e tensão, o coronel Assimi Goita insistiu no "compromisso infalível" das Forças Armadas do Mali em defender a segurança do país. No entanto, não indicou pormenores sobre o paradeiro de Bah Ndaw e Moctar Ouané.
fonte: DW África
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Samuel