O Presidente Filipe Nyusi afirmou este domingo (26.07) que nenhum país exigiu recompensa para participar no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado. O chefe de Estado moçambicano reiterou, numa comunicação à nação, que o terrorismo é um fenómeno global e não pode ser combatido por um país de forma isolada.
"Não existe razão para se recear a presença e a intervenção das forças da SADC nem do Ruanda. Ninguém pediu uma recompensa a Moçambique por apoiar a salvar vidas dos moçambicanos. Pelo menos eu e o meu Governo não temos nenhum conhecimento [disto]", salientou.
Uma força do Ruanda, constituída por cerca de mil homens, já se encontra no terreno. Aguardava-se a chegada ao país de tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) a partir do dia 15 de julho.
Desde outubro de 2017, a crise de segurança em Cabo Delgado resultou em mais de 2 mil mortos e 817 mil deslocados, para além da destruição de várias infraestruturas.
Data de chegada não divulgada
O chefe de Estado minimizou as informações de que a chegada de tropas ruandesas antes da força da SADC teria criado um desconforto nos países da África Austral, afirmando que o assunto tinha sido decido na cimeira extraordinária do bloco em junho.
"Os países da região já estão a mobilizar-se nesse sentido, tanto que o comandante dessas forças já está em Moçambique. Na mesma cimeira extraordinária da SADC, decidiu-se que, além do apoio regional, Moçambique tinha a prerrogativa de solicitar apoio de qualquer parceiro bilateral fora da região, com primazia para os países africanos", disse o Presidente moçambicano.
Nyusi não avançou novas datas para a chegada a Moçambique da força da SADC.
O Presidente, que é igualmente Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança, indicou que a atuação das forças no terreno obedecerá a uma estrutura de comando previamente aprovada.
"A referida estrutura de comando garante que não haja confrontos, atritos nem desarticulação entre as nossas forças e forças estrangeiras. Salvaguarda, igualmente, que não haja atritos entre as diversas forças internacionais que possam vir a ser empenhadas no nosso país", explicou Nyusi.
Lacunas no discurso?
Filipe Nyusi disse que os moçambicanos estarão na vanguarda e na direção estratégica das operações por conhecerem melhor o terreno e o contexto, e serem os mais interessados na restauração da paz no país.
Comentando a comunicação do chefe de Estado, o analista Dercio Alfazema considerou que, nas "entrelinhas, ficou claro que ainda não há um total conforto sobre os passos seguintes em relação à vinda das tropas da SADC".
Para Alfazema, a comunicação foi abrangente. No entanto, "pode ter ficado de fora nesta comunicação casos muito específicos que foram levantados sobre a violação dos direitos humanos". O analista citou, por exemplo, o assassinato de uma mulher, que veio a público em setembro de 2020 pelas redes sociais. Nunca ficou claro se os autores deste ato teriam sido os terroristas ou elementos das forças governamentais.
lfazema considera importante que o Presidente tenha vindo esclarecer aos moçambicanos que a intervenção se realiza no âmbito de um apoio com base em normas internacionais, mas alertou que "em diplomacia não há almoços grátis".
"Moçambique também tem estado a apoiar a esses países. Eu penso que esta vinda pode também ser um pouco resultado desta contrapartida pelo apoio que Moçambique tem dado a outros países", explica.
fonte: DW África
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Samuel