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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Talibã 2021: um novo capítulo geopolítico?

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Testemunhamos uma confusão desesperada em um aeroporto, pessoas em pânico tentando embarcar em aeronaves militares. Vietnã/Vietname, década de 1970? Não, Cabul, 2021


Foi gasto o suficiente em Afeganistão nesta aventura à OTAN (mais que um trilião, ou mil biliões de dólares) para erradicar a pobreza endêmica, globalmente, para sempre. E agora vejam esta situação.

Enquanto há aqueles que hoje se regozijam e esfregam as mãos de alegria com a total humilhação dos Estados Unidos da América e seus chihuahuas da OTAN, lembremo-nos de que estamos lidando com coisas sérias e lembremo-nos que em tempos de crise, como vimos com Covid, temos que agir juntos. Portanto, não é hora de se gabar, é hora de encontrar soluções. Soluções urgentes, primeiro pelo povo do Afeganistão, principalmente as mulheres e moças jovens que arriscam perder o que é um direito fundamental, a sua liberdade e também porque no meio deste caos com fanatismo à mistura, pode surgir algo feio que constitui um risco para todos. A ver se aqueles que tomam decisões estão à altura da tarefa, que é outra questão.

Não vamos esquecer como isso começou

Mas, para começar, não esqueçamos de traçar a linha do tempo no início. O Afeganistão tinha um governo progressista e inclusivo que respeitava os direitos das mulheres e que construía escolas para meninos e meninas, hospitais, estava melhorando sua rede de saúde, implementando serviços públicos de qualidade, gratuitos. E depois o que aconteceu? Imaginem, alguém disse “Eu sei! Vamos desestabilizar o país completamente e lançar um movimento islâmico para atacar o ponto fraco da União Soviética, a barriga do crocodilo!”.

E assim foi... o dinheiro da Arábia Saudita (sempre pronto para agradar seus mestres ocidentais) foi usado para financiar escolas religiosas no Paquistão, Madrassas, que se encheram principalmente de alunos pashtuns (de ambos os lados da fronteira com o Afeganistão) e uma forma radical de Islã wahhabista (expansionista) foi lançada. Vendo o que estava por vir, os soviéticos decidiram apoiar o governo progressista (que havia pedido sua ajuda) e caíram direto em uma armadilha planejada por quem mais? A Rainha da Intriga, os bons velhos EU da América.

O movimento Mujaheddin, estimulado pelo discurso islâmico e tripulado por gente dura e de barba rija da montanha, viu as forças armadas soviéticas se retirarem em uma década e a nota de agradecimento a Washington foi a transformação no movimento Talibã.

Portanto, não esqueçamos onde e como isso começou. Não esqueçamos também que, vinte anos atrás, muitas pessoas, inclusive eu para ser honesto, não viam alternativa para o Ocidente a não ser invadir o Afeganistão porque estava abrigando Al-Qaeda, e porque os ataques de setembro de 2001 nos EUA foram suficientemente chocantes para galvanizar e orquestrar o apoio mundial e, novamente, eu incluído na época. 

Porém eles logo perderam meu apoio quando vi um total desprezo pela vida humana e pela propriedade, uma falta de compreensão dos costumes locais e uma total ausência de responsabilidade, em bombardear casas, bombardear festas de casamento e coisas do gênero. E, finalmente, vinte anos atrás, alguns estavam comentando, inclusive eu, que o Taliban não foi derrotado militarmente, eles simplesmente desapareceram, derretendo-se nas montanhas e esperaram.

Uma orgia de violência e um colapso na credibilidade da política externa da OTAN

Muitos de nós testemunhamos um ultraje no direito internacional e um colapso na credibilidade da política externa da OTAN quando, dois anos depois, um ataque selvagem foi lançado ao Iraque fora dos auspícios do direito internacional, baseado em mentiras e na infantilidade de líderes ocidentais. E depois disso, mais do mesmo quando o Ocidente conviveu com terroristas na Líbia, novamente violou a lei internacional [UNSC Resoluções 1970 e 1973 (2011)] e depois se aliou aos terroristas takfiri na Síria e culpou a Rússia por defender o governo de al-Assad, que a maioria dos sírios apoia.

Onde estamos agora, 20 anos depois da aventura começar?

Hoje, vinte anos após o início deste ciclo (e não esqueçamos de antemão o Kosovo e a Iugoslávia), onde estamos? Estamos melhores? Estamos mais seguros? Resolvemos alguma questão global importante? Erradicámos a pobreza, o motor do extremismo? As questões climatéricas estão resolvidas? Estamos prontos para enfrentar pandemias?

Chegamos a um ponto em que a inutilidade da abordagem ocidental (entende-se, da OTAN, um clube militar cujos estados membros gastam um vírgula dois mil biliões de USD por ano todos os anos em despesas militares) virou contra quem cuspe no vento. Quantas escolas, quantas canetas, quantas camas nos hospitais, quanto apoio para os pobres, para os pensionistas, compraria essa quantia de dinheiro todos os anos?

Um ultraje? Com certeza mas vamos voltar a iterar que estes são tempos graves, graves demais para estarmos a proporcionar a culpa. É evidente que OTAN, ou seja, seu progenitor (EUA) e dois sargentos-mor (Reino Unido e França), ou digamos France-UK-US (o Eixo FUKUS), foi, como sempre, incapaz ou arrogante demais para estudar a região em que iria inserir-se. Acham que se impõe regras de 30.000 pés de altitude, quem estiver no sítio errado, que se lixe!

Primeiro, nunca entenderam quem são os Taliban, ou o que é o Movimento Taliban. É uma coleção frouxa de grupos heterogêneos com um objetivo comum, livrar o Afeganistão de invasores estrangeiros, basicamente e um segundo objetivo mais ideológico, impor a lei da Sharia. 

Outras perguntas seguem: esse grupo pode agir em conjunto e formar um governo? E que tipo de governo e que tipo de sistema? Uma democracia parlamentar de estilo ocidental (seja lá o que isso signifique)? Pode funcionar em Paris ou Londres ... não tem obrigação de funcionar em Cabul.

Todos os afegãos querem que a lei Sharia seja imposta a eles? Que escolha eles terão senão quiserem? Todas essas são questões que surgem da polarização de uma sociedade, depois de séculos e milênios de grupos étnicos e sociais complexos tecerem um tecido social que é equilibrado e, em seguida, ver esse equilíbrio totalmente dividido por forças estrangeiras que não entendem nada, desestabilizam um país e uma sociedade bem além do ponto de inflexão e deixam um fedor para trás quando se rastejam para fora com o rabo entre as pernas.

Mas, que merda é esta?

É esta abordagem unilateral e prepotente que está em questão e criou um mundo perigoso. Quando eu era jovem, poderíamos juntar uns trocos trabalhando numa loja, no campo, nas limpezas, na construção, fazendo corridas patrocinadas, sei lá o que mais, comprar um bilhete e viajar para Kabul, no Magic Bus (Õmnibus/Autocarro Mágico), atravessando o Irão. Podíamos atravessar África do Norte, indo de Egipto para Marrocos, atravessando Líbia. Podíamos atravessar os Balcãs sem qualquer problema. Alguns amigos fizeram África de Norte a Sul (Tânger para Cidade do Cabo). E hoje? Nem se atreve a sair de um avião em metade dos países do mundo, as sociedades olham umas para as outras através de uma mira numa arma. Gerações e gerações nascem em ciclos de ódio. Pobreza cria ciclos de marginalização, crime, e estremismo/terrorismo. Mas, que merda é essa? E gastam trilhões de dólares todos os anos em armamento?

Olhe para o mapa do mundo, olhe para os pontos quentes e veja que esta política de imperialismo e neo-colonialismo falhou repetidas vezes porque aqueles que dominam os corredores do poder no Palácio Elysée, em Whitehall e em Washington são os únicos a aconselhar a liderança política (Biden, Johnson, Macron et alia) e, infelizmente, suas ideias estão desatualizadas, há séculos. Se a CPLP tivesse uma viva voz com um assento rotativo entre os membros no Conselho de Segurança da ONU, as coisas seriam diferentes. Mas infelizmente a CPLP ainda não tem pujança no palco mundial, esperemos que venha a ter.

É óbvio hoje em dia que o único caminho a seguir é uma abordagem inclusiva e multilateral, que respeite todas as partes e favoreça o desenvolvimento em detrimento da implantação de bases militares. Uma abordagem social e não militar, uma abordagem de políticas sociais e não terrorismo social. Já disse isso aqui nas minhas colunas um milhão de vezes. 

Mas aqueles em Paris, Londres e Washington são 

a) incapazes de compreender sociedades complexas, ou simplesmente são desinteressados

b) recusam-se a adotar uma abordagem inclusiva falando e ouvindo todas as partes 

c) são incapazes de mostrar respeito pelos parceiros internacionais fora deste eixo FUKUS (França-Reino Unido, UK-EUA, US). Observe a insolência constante em relação à Rússia e à China em praticamente todos os boletins de notícias sobre praticamente qualquer evento em qualquer lugar. 

Para controlar alguém, incuta-lhe medo, por isso tem-se de criar uma entidade “ELES” para justificar o “NÓS”. Isso é fácil de fazer com clubes de futebol, mas no palco internacional, há de procurar perigo e se não existe, há de criá-lo.

Essa abordagem pertence à década de 1970 e insistir em tocar a mesma campainha cinquenta anos depois não é apenas idiotice, é um insulto às mulheres e homens em serviço militar (e às suas famílias) que perderam suas vidas nas forças armadas lutando uma guerra inútil do outro lado do globo.

Esta abordagem não dá, pura e simplesmente. Se o poderio militar de um conjunto de países que gastam mais que um trilião de dólares todos os anos não consegue derrotar um bando de barbudos armados quase com flechas, e falo sem desrespeito, então não dá.

Há que fazer o TPC

Se se quiser seguir esta abordagem imperialista, há de fazer o TPC primeiro e entender com quem está a ... mexer. Nem entenderam o que é o Afeganistão.

O Afeganistão é uma coleção de povos, muitos vivendo em uma sociedade tribal. Eles são, em primeiro lugar, pashtun, tadjique, hazara, uzbeques, nuristanês, aimaq, turcomano, baloch, jogi frosh e chori frosh, kuchi, panjshiris, pachaie ... e, em segundo lugar, afegãos e falam dari (dialeto farsi, 50%) pashtu (35%) ), sendo ambas línguas nacionais; outras línguas faladas são o uzbeque e o turcomano, ambas línguas turcas e muitas outras línguas minoritárias, como aimaq, ashkun, baluchi, gujari, hazaragi, kazaki e moghili, pashai, nuristani e pamiri (alsana).

Pois. Não é um país ocidental onde todos falam a mesma língua e onde todos têm os mesmos costumes, mais ou menos. Por isso como pode o modelo ocidental funcionar numa situação destas? Desperdiçaram um trilião de dólares e nem entendem isso?

É preciso uma nova abordagem

O que não pode acontecer é o Afeganistão implodir em um vazio que suga algo sinistro, que representa uma ameaça para a comunidade internacional por meio do uso de mecanismos de Estado, como instalações de armas e laboratórios. O que precisa acontecer é uma nova abordagem para a gestão de crises baseada no discurso, diálogo, discussão e debate, os fundamentos da democracia, baseada em uma abordagem respeitosa, inclusiva e multilateral, dando prioridade abnegada ao desenvolvimento. Não é arrogância, nem beligerância, nem chauvisismo, o ABC do desastre, o ABC que tantas vezes constitui o alfabeto do Ocidente, lê-se OTAN.

E se esta nova abordagem pudesse ser estendida a todos os lugares, não apenas limitada ao Afeganistão, talvez o mais de um trilião de dólares gastos em sistemas de armas todos os anos para assassinar pessoas pudesse ser melhor usado para alimentar os famintos, para abrigar os sem-teto, para educar os jovens, para criar postos de trabalho, para estabelecer centros de comunidade para desenvolvimento e socializar a população, para cuidar dos idosos, seja qual for sua cor, raça, religião ou credo. A pobreza cria exclusão, exclusão gera extremismo. Isso é tão difícil de entender?

Precisamos de uma nova abordagem, senhoras e senhores. E os responsáveis pela situação atual, que se demitam e que tenham vergonha na cara. Cambada de inúteis e sanguessugas. E falo principalmente do Eixo FUKUS.

CPLP no CS da ONU e mais mulheres no poder

Soluções? Colocar a CPLP com lugar rotativo como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU com direito a veto (esperemos já com Lula lá representando o Brasil). Aí teríamos o bom-senso de Portugal, partilhado pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa, é uma “portuguesidade”, ou característica cultural, um valor partilhado por toda esta comunidade.

Outra solução é entreter a noção que se fossem mulheres as líderes dos países que levaram o mundo a esta situação, nada disso teria acontecido.

Como alguém esclarecido escreveu certa vez ... Você pode dizer que sou um sonhador ... 

A ver se alguém faça algo, se os políticos de países mais iluminados começam a sair e falar de viva voz. A aparecerem. Precisamos. Estamos numa encruzilhada geopolítica mas Afeganistão será meramente um soluço? Nada mudará?  O comboio/trem já partiu para o Irão/Irã e as últimas paragens são Moscovo/Moscou e seus recursos e finalmente Beijing/Pequim? É isso que as pessoas querem?

Então... o povo tem de exigir mais dos seus representantes políticos. Chama-se um sistema democrático.

O autor pode ser contatado em timothy.hinchey@gmail.com

fonte: pravda.ru

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Samuel

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